25 de fevereiro de 2007

Técnicas hipertextuais no filme Rashomon.


1 -Flashback e Recolection.
A hipertextualidade no filme Rashomon é obtida durantes as várias e sucessivas utilizações de técnicas de flashback, aonde os personagens vão contando seus pontos de vista a partir de lembranças sobre um crime o qual envolve quatro personagens principais: O nobre marido assassinado, sua esposa violentada, um famoso bandido, um modesto lenhador e um monge Budista. Todos esses personagens possuem suas versões e justificativas, de forma que, ao longo do filme podemos comparar quais delas poderia ser a mais verdadeira.

Essa técnica chamada de “Recolection” por Kurosawa, faz com que o espectador vire testemunha do crime dramático, assim como leva o espectador a tomar o papel de Juiz na trama. Isso ocorre devido à força interativa que o filme propõe, mais precisamente quando a direção decide posicionar os personagens de frente para a câmera fazendo, com isso, que tanto o publico quanto os personagens troquem olhares diretos; como uma espécie de confessionário.



2 - Cenário, Direção e Roteiro.

De forma complementar, a composição hipertextual no filme Rashomon, foi obtida tanto pela direção quanto pela escolha dos cenários; peças de muita importância na fixação dos pontos comuns, nos quais o eixo principal da narração trafegava, ou seja, o eixo ou núcleo principal da trama era fazer o publico saber como de fato o nobre cavalheiro samurai havia sido morto e, além do mais, por que.

Esse pensamento serviu de parâmetro de ida e volta no tempo do filme. Com isso ele é possível identificar os três estágios do roteiro de forma bem definida os quais ao mesmo tempo davam e recebiam as conexões de tempo, a saber:



a) Primeiro tempo ou tempo Comum dos acontecimentos da trama, acontecia dentro das ruínas do templo Rashomon sobre uma tempestade até a introdução de sua problemática ao espectador.




b) Segundo tempo ou Clímax, ainda sobre a forte tempestade após todos os pontos de vistas terem sido ditos, o tempo volta para o templo rashomon onde o personagem do Lenhador vai esclarecer a verdadeira versão do crime.




c) Terceiro tempo ou Apoteose, a cena mais vez volta para o tempo principal, a pergunta é respondida, porem, o filme nao finaliza seu discusso claramente; pelo contario, abri portas para outras possibilidades que os espectadores criam em suas mentes, desta forma, temos muitas possiveis formas de finalização.

Portanto, ao final de todos os pontos de vistas terem sido expressadas, o diretor fez com que a relação espaço-temporal do eixo central do filme não fosse esquecida na memória do publico. Para isso o diretor fez com que vários aspectos estéticos e semióticos se confluíssem também dentro do eixo principal e, como resultado, se obteve uma fragmentação do todo, por meio de cortes rápidos; como saltos rápidos para frente ou para traz dos acontecimentos. Por isso, o eixo principal dos acontecimentos, somados as técnicas de Flashbacks utilizado pela direção, as lembranças ou Recolections escritas no roteiro e a corporificarão disso tudo pelo cenário, formam sem duvida, as conexões hipertextuais do filme.

3- Montagem e Roteiro.

Levando em consideração que a gramática cinematográfica so vai surgir, na historia do cinema, a partir da criação da Montagem do filme, podemos com isso dizer também que foi a montagem a parte que coordenou todas as possíveis tramas hipertextuais. Assim como o Memex de Bush era para organizar as idéias e potencializa-las por meio de associações, a montagem do filme Rashomon foi a parte da produção que tornou possível o embaralhamento da ordem e acontecimentos da narrativa e, com efeito, possibilitou a quebra da linearidade do roteiro.

4 - Personagens

A sobreposição dos elementos faz com que os Personagens interajam com publico e que ele, por sua vez, participe ativamente do drama. Os personagens também provocam as conexões hipertextuais no filme por meio de seus argumentos que se misturam com os demais e que, a um só tempo, são capazes de invocar, de forma incitativa, a participação do publico. Alem disso, todos os personagens envolvidos na trama quando no momento do interrogatório se sentam paralelamente uns aos outros como se formassem uma fileira humana, nesse momento do filme os personagens adquirem uma outra função a de “texto lido” ou “texto suspenso”. O ponto positivo disto é que o espectador, neste momento do filme, consegue organizar mentalmente e visualmente seus pontos de vistas mais convincentes.

O roteiro por sua vez, por ter sido uma adaptação de um romance clássico Japonês, recebeu algumas alterações para que a composição hipertextual se tornasse algo plenamente entendível e coerente, principalmente, para o publico ocidental que ainda não estava acostumado a quebrar a linearidade do tempo dos filmes.


Conclusão Hipertextuais e sua relações com o cinema.

Como um grande quebra cabeças, o diretor Akira Kurosawa teve que organizar todos os elementos criativos do filme para poder fazer com que as lexias hipertextuais funcionassem como elementos dinâmicos de expectação e estética simultaneamente. Claro, que para isso, tanto o roteiro quanto a direção foram os elementos de fundamental importância direcional para que os saltos de tempo e, rasgos de espaço não perdessem o seu eixo central. Porém, nada disso poderia ser feito se a linguagem cinematográfica não oferecesse técnicas que possibilitassem a organização e a distribuição desses acontecimentos de forma interativa uns aos outros e com o publico. Enfim, o que se quer dizer é que, graças às técnicas de direção; considerando as locações do cenário, o treinamentos dos personagens e a decupação do roteiro, misturado, sobretudo, a montagem do filme, os nódulos narrativos puderam ser abertos e organizados coerentemente.

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